sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A verdadeira Bonequinha de Luxo

“Moonriver, wider than a mile, I’m crossing you in style…“.
Ouvir a música-tema de “Bonequinha de Luxo”, que baixei há tantos (e tantos e tantos) anos, na voz de Audrey Hepburn, me transporta direto para a frente da Tiffany & Co, em Nova York. Me vejo lá, de coroinha e óculos escuros, comendo meu Big Mac (Ai, me deixa viver meu sonho), depois de uma noite incrível cercado pelos meus melhores amigos.
Nunca vou me esquecer da primeira vez que vi esse filme. Tinha uns 13 anos e estava acordado, curtindo a insônia de madrugada, com a minha mãe. (Ah, mãe, obrigado por ser a melhor companhia noite adentro e por me apresentar os filmes que serão eternos pra mim). Estávamos no nosso sofá velhinho, de almofadões azuis e com a fita VHS (Gente, até eu explicar isso… Joguem no Google, please) preparados para gravar a história de Holly Golightly e do gato chamado simplesmente Gato.  Devia estar passando na Globo, acho. Assim que aquela imagem de perfeição apareceu na tela, o gordinho tímido com um pacote de pipoca de micro-ondas na mão (Odeio você que achou que não existia micro-ondas na época, hein!) se apaixonou eternamente por aquela personagem destrambelhada, um tanto solitária, mas cheia de vontades. Parecia um pouco comigo, ok? Nas devidas proporções…
Daí que geral já está perguntando se esse blog é de livros ou de filmes que o Thiago ama, certo? Bom, a verdade é que, alguns anos depois, descobri que “Bonequinha de Luxo” é, antes de mais nada, um conto escrito pelo autor e jornalista norte-americano Truman Capote, morto em 1984. Pausa para aplaudir uma das figuras mais polêmicas, originais, bafônicas, lady-gaguianas (inventei!) da literatura. Capote, por quem tenho devoção cega, foi um cara que produziu pouco, porque levava uma vida de bebidas, drogas e festas entre os ricos e famosos. Mas mudou o jornalismo com sua obra-prima “A Sangue Frio”, que trouxe um jeito diferente, meio literário, de contar histórias que rolaram de verdade. (alerta de tendência para futuras estudantes de jornalismo. Tem que ler) Bom, foi Capote, um gay vindo do interior e encantado pelo mundo glamouroso de Nova York, que criou a nossa Bonequinha.
No conto, Holly é bem parecida com a que vimos na tela. Fisicamente, no estilo, na maneira doce de ser toda errada. Mas a gente nunca pode esquecer que o filme foi lançado em 1961, uma época em que Hollywood queria ser tudo, menos polêmica. O que eu quero dizer é que, nas palavras de Capote, a protagonista e a vida que ela leva são mais reais, mais cruas. A gente ama a Holly, mas no fundo sabe que ela é uma garota perdida, que não sabe se quer um amor ou um milionário que lhe compre joias. No conto, a vida marginal que a personagem leva fica bem explícita e, apesar da elegância do autor, você entende muito bem que ela se relaciona com vários caras por interesse. #EntendedoresEntenderão
Mas o cinema não imortalizaria a personagem de Audrey se não fossem os dedos talentosos de Capote e sua máquina de escrever. Está tudo lá no conto dele. O vizinho escritor (que é quem conta a história), o fotógrafo japonês que mora no prédio e, claro, a Holly como veríamos no cinema. Não resisti e copiei aqui um dos trechos em que o autor descreve a personagem:
“… Ela estava com um vestido preto, ligeiro e elegante, sandálias pretas e gargantilhas de pérolas. Apesar da magreza sofisticada, tinha um ar de saúde mantida à base de cereais no café-da-manhã… A boca era larga; o nariz, arrebitado. Um par de óculos escuros obliterava os olhos. Era um rosto para lá da infância, mas para cá de uma mulher”.
E agora? Como ler a história sem imaginar Audrey? Eu nunca consegui. E olha que eu tentei. Alguns biógrafos dizem que Capote queria Marilyn Monroe para o papel e que, a princípio, ele odiou quando o estúdio escolheu Hepburn. Dizem que ele acompanhou as gravações do filme e, sempre que podia, fazia uma crítica à atriz nascida na Bélgica (Há, por essa você não esperava, hein!).
Deu vontade de ler? A Companhia das Letras tem no catálogo esse e outros contos de Truman Capote na obra “Bonequinha de Luxo”. De presente, vem no livro, além de outros contos, “Memória de Natal”, um dos textos mais lindos que já li na vida. Promete que vai ler e me contar o que achou?

#bu

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